Nesta segunda-feira, dia 9 de novembro, Ibaiti comemora 73 anos de emancipação política administrativa.
Conheça um pouco da história do terceiro maior munícipio da Amunorpi.
Ibaiti - O Sonho da Emancipação
Trecho extraído do livro: Da Jazida ao Asfalto
de Gilson Sarrafho
Os esforços e dedicação dos primeiros moradores que sonharam em transformar o distrito de Barra Bonita em município independente foram grandes. As dificuldades que o povoado enfrentava na época eram enormes. No começo, a vila vivia isolada do resto do estado. A única ligação segura com a civilização era pela estrada de ferro. A precariedade das vias era grande. No povoado, as carroças e as charretes, nos caminhos rurais, as montarias e as tropas de cargueiros.
Quando o sonho da separação brotou na mente dos barra-bonitenses, por volta da década de 1930, o Brasil vivia o grande processo de emancipação municipal. Esse processo se intensificou no país nas décadas de 1950 e 1960. Ibaiti era um grande produtor de riquezas para a sede do município, Tomazina. Nas terras ibaitienses se produzia café, o arroz, o milho e o algodão. As serrarias exportavam em grande escala madeiras beneficiadas para o mercado paulista. Seis jazidas de carvão mineral produziam cerca de cinco mil toneladas mensais que eram enviadas para fora. Porém, dos impostos arrecadados em Barra Bonita, menos de 30% retornavam em melhorias para o distrito. Esses parcos recursos não representavam sequer o mínimo suficiente para atender as demandas do distrito. Saneamento, educação, saúde e segurança pública eram exigências urgentes que a vila necessitava.
O comércio de Ibaiti já era o mais forte da região. Os empórios, vendas, armazéns e toda gama de casas comerciais ibaitienses abasteciam os povoados de Euzébio de Oliveira, Figueira e as minas de carvão de todo o vale do Rio do Peixe. A região era rica, porém de pouca infraestrutura viária. Não existia sequer uma estrada de rodagem ligando o povoado à região. A única via que ligava Ibaiti à sede de município, Tomazina, era precária e com uma ponte quase ruindo sobre o rio Pinhalão. Somente com a emancipação, Barra Bonita teria autonomia financeira e administrativa e consequentemente o progresso. Com essas necessidades cada vez mais presente no anseio do povo, nasce a idéia da emancipação. No começo a inciativa ainda era temerária, porém as esperanças e os ânimos eram fortes. Nas esquinas, nos bares, nas reuniões de família o assunto era um só, o Município. A vontade foi contagiando todos. Barra Bonita começa a crescer. O distrito se torna maior que a sede do município. Gera mais riquezas, tem mais gente. A separação era questão de tempo.
Em 1947, no dia 12 de junho, cinco meses antes da publicação da Lei Estadual número 02, assinada pelo governador Moysés Lupion, publicada no Diário Oficial nº 205 tornando Ibaiti município, Júlio Farah, um dos bravos que incansavelmente buscava a emancipação e que viria a se tornar o primeiro prefeito de Ibaiti, escreve uma carta ao deputado José Alves Bacelar. O documento, que até então era de fórum íntimo, foi trazido a público através do jornal O Norte Pioneiro do jornalista Leonel Júlio Farah em fevereiro de 1968 na coluna “Retrospecto” de autoria de João Farah.
“Distinto correligionário, sem ter ainda a elevada honra de conhecê-lo a não ser através da sua brilhante atuação no Parlamento Estadual, tomo a liberdade de vir à sua grata presença, por sugestão do nosso comum amigo Dr. Djalma Lopes, por intermédio do qual o nobre deputado me fez o muito gentil e honroso oferecimento dos seus valiosíssimos préstimos em prol da criação deste município.
Fornecendo ao nobre correligionário os dados referentes a Ibaiti, os quais a meu ver justificam a pleiteada emancipação administrativa deste distrito, consigno-lhe antecipadamente a profunda gratidão dos ibaitienses, pelo trabalho que desenvolve em favor deste pedacinho do Paraná.
A autonomia é para Ibaiti uma questão de vida ou morte. Este distrito pode contribuir apreciavelmente para a grandeza econômica do Paraná, porque o seu potencial de riquezas inaproveitadas é inestimável.
Nas condições atuais, porém, nada lhe será possível, pois, desgraçadamente, a administração municipal sediada em Tomazina tem-se mantido acéfala desde a saída do Sr. Avelino Vieira que inegavelmente foi um grande prefeito.
Pelos documentos que tenho a honra de anexar, verá Vossa Excelência, como dado de grande importância, que Ibaiti contribui para o erário municipal com quase a metade da renda total do município, e essa contribuição poderia ser grandemente aumentada sem elevação de impostos, se o sistema de arrecadação não fosse tão falho como é.
Este distrito precisa de autonomia administrativa porque não possui estradas e nem qualquer melhoramento proporcionado pela administração municipal, que aplica aqui somente 28% da renda aqui arrecadada.
Imagine o deputado que o comércio de Ibaiti é o maior abastecedor dos povoados de Euzébio de Oliveira, Figueira e das minas de carvão do vale do Rio do Peixe. É com Ibaiti que aquela riquíssima região mantém intercâmbio e o seu mais íntimo contato, e não há uma só estrada de rodagem ligando Ibaiti àquela região.
A nossa única saída para o “limpo” é a péssima estrada que vem de Tomazina e que está quase interrompida por uma ponte sobre o rio Pinhalão, que ameaça ruir a todo momento.
Reiterando ao nobre correligionário os meus mais sinceros agradecimentos, despeço-me de Vossa Excelência, augurando-lhe muitas felicidades.
O correligionário e admirador, Júlio Farah”.
Júlio Farah foi um obstinado pela luta da emancipação político-administrativa de Ibaiti. “A autonomia é para Ibaiti uma questão de vida ou morte”. Durante os anos que lutou pela criação do município, produziu muitos documentos. Recortes de jornais, cópias de ofícios, requerimentos e cartas aos seus amigos e parentes foram guardados pela família.
O ofício acima é um desses documentos que foi publicado, pela primeira vez, 21 anos após a criação do município. Segundo o filho João Farah, fazia parte do “Diário Confidencial” de Júlio Farah. Segundo ele, em toda documentação deixada pelo pai, não existe um só escrito que não fale sobre Ibaiti e que não trate o problema da terra que ele tanto amou.
Informe Policial